Grupo de pesquisa ligado à linha de Comunicação e Política do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Paraná.

Redução de desigualdades deve continuar apesar da turbulência no país, destaca a cientista política Marta Arretche

Com as recentes mudanças políticas no Brasil, algumas dúvidas e receios emergiram na sociedade. Afinal, os avanços sociais podem retroceder com a turbulência política pela qual passa o país?

A análise da professora  do Departamento de Ciência Política da USP Dra. Marta Arretche indica que desenvolvimentos como o avanço da mulher na sociedade e os progressos na educação devem permanecer levantando a curva ascendente indicando a diminuição da desigualdade social. Conferimos na última segunda-feira a palestra da cientista política no Seminário Desafios da desigualdade: persistência, superação e o papel das políticas educacionais, realizado pelo Núcleo de Políticas Educacionais (NUPE/UFPR). Na ocasião, ela falou sobre “Democracia e a redução da desigualdade no Brasil: a inclusão dos outsiders”. Integraram a mesa o representante do NUPE e o debatedor Prof. Dr. Ângelo de Souza (UFPR).

desigualdade

A cientista política apresentou a pesquisa que embasou seu recente livro Trajetórias das desigualdades – como o Brasil mudou nos últimos anos (São Paulo: Unesp, 2015). Como não poderia deixar de ser, a crise brasileira foi abordada em meio às demonstrações de como o país vem reduzindo as desigualdades desde os anos 1990. Especificamente sobre a ascensão socioeconômica dos anos 2000 até agora, a cientista política enfatizou que dificilmente o país retroceda quanto aos maiores níveis de igualdade conquistados pelas mulheres, pelas políticas de renda e pela educação. Para ela, essas mudanças, além de terem sido incentivadas via políticas públicas específicas, integram transformações estruturais que já estão consolidadas na sociedade.

É interessante destacar o diálogo que a recente pesquisa de Arretche, que lidera os trabalhos do Centro de Estudos da Metrópole (CEM) na USP, trava com o economista francês Thomas Piketty. Ele se tornou célebre no meio acadêmico ao lançar o livro O Capital no Século XXI. Piketty fez um trabalho de análise baseado em survey que permitiu a defesa de que o capitalismo possui uma tendência natural de concentração de riqueza nas mãos de poucos. O estudo trabalhou com a perspectiva de que 1% da população concentra 25% da renda total do mundo. Arretche destacou que até mesmo nos governos petistas a hipótese da métrica do 1% do Piketty  se manteve no Brasil e que tal metodologia de estudo se popularizou com o livro do economista.

No entanto, ao dialogar com o economista, Arretche propõe que a métrica do 1% não deva ser o único parâmetro analítico, caso contrário não serão consideradas as transformações ocorridas na maior parcela que integra os 99%. E é justamente nesta lacuna que a obra da cientista política se desenvolve, com o fenômeno da desigualdade observado sobre muitas outras dimensões além da do 1%.

Nesse sentido, especificamente sobre a ascensão das mulheres na sociedade, a cientista destaca ser um processo estrutural no Brasil, o que vem ocorrendo desde os anos 1970 de forma progressiva, e isto se torna possível ver através, por exemplo, de indicadores de escolaridade (crescimento do ensino básico e universidades), queda na diferença de renda, em que pese ainda existir, queda do número de indivíduos sem renda em geral, queda da fertilidade ( o que impacta na oferta de mão de obra barata), entre outros fatores que não terão reversão.

A curva ascendente de crescimento deve permanecer progressiva em continuidade às políticas que surgiram após a Constituição de 1988, que estipulou o salário mínimo. A cientista destaca que dificilmente algum governante mexerá neste direito conquistado e estabelecido, visto que o fato influi diretamente na escolha eleitoral. Raciocínio similar ela faz para referir que o Bolsa Família e demais conquistas da década passada devem continuar, embora o Bolsa Família não seja um índice de redução da desigualdade, mas sim movimento de saída de uma condição de extrema pobreza. Ademais, a população está mais ativa e deverá ser mais vigilante quanto a retrocessos. Em suma, muitas das mudanças que levaram à redução das desigualdades sociais envolvem, além de políticas, comportamentos que estão cada vez mais se arraigando no corpo social e integram fenômenos de múltiplas facetas. Arretche ensina que para uma análise mais completa, é necessário desagregá-los e seguir cada uma de suas trajetórias.

Oportunidade

Se você se interessou mais pelo trabalho de Arretche, o CEL informa que o CEM está com o edital aberto para bolsas de pós-doutorado em Ciências Sociais. As bolsas são para desenvolver projetos específicos, em um dos seguintes temas:

Entender os efeitos independentes das políticas públicas nas condições sociais e/ou na redução da desigualdade.

http://www.fflch.usp.br/centrodametropole/1120

Entender o papel das instituições políticas nas decisões sobre políticas redistributivas, particularmente o comportamento eleitoral e o processo de elaboração das leis.

http://www.fflch.usp.br/centrodametropole/1121

Mapear formas alternativas de governança em áreas urbanas e em suas conexões com o Estado de forma a entender “quem faz o quê”?

http://www.fflch.usp.br/centrodametropole/1122

 Contato e prazo das inscrições

O candidato deverá enviar a documentação via e-mail para: centrodametropole@usp.br com o título: “Bolsa – PD CEPID-CEM”. O prazo para envio das inscrições se encerra em 13/06/2016. Para dúvidas e informações adicionais sobre o Programa de Pesquisa, entre em contato através do e-mail centrodametropole@usp.br com o título: “Dúvida”.

Foto: NUPE/UFPR