Grupo de pesquisa ligado à linha de Comunicação e Política do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Paraná.

@planalto: o Twitter institucional de Jair Messias Bolsonaro

Por Mateus Leonardi Redivo*

É sabido que a comunicação eleitoral não se confunde com a governamental; não apenas pelo marco temporal diferente, como por distinções de objetivos e destinatários, entre outras variáveis (RIORDA, 2011). Todavia, no contexto da comunicação política aplicada às múltiplas redes sociais digitais ( WEBER, 2017), que deslocam os espaços de fala outrora hegemônicos, faz-se pertinente questionar, também, se o perfil institucional da Presidência da República no Twitter[1] foi instrumentalizado pelo atual chefe do Poder Executivo brasileiro. Caso esteja fazendo isso, o referido ator aproveita-se de um dos canais de comunicação oficial do órgão público para perpetuar uma estratégia e a emissão de mensagens que não visam o interesse público, mas uma narrativa tipicamente eleitoral.

Por isso que, visando um olhar mais objetivo sobre a atuação institucional do Executivo na referida rede social, foram examinadas as postagens do Palácio do Planalto durante o primeiro mês de mandato do 38º presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro (sem partido), que havia elegido o Twitter como seu veículo de comunicação oficial ainda na campanha eleitoral de 2018 (JORGE, 2019).

Inspirado na metodologia proposta pelo Grupo de Pesquisa em Comunicação Eleitoral (CEL) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) (PANKE; CERVI, 2011) e adotando como marco teórico as literaturas de Pierre Lévy, Antonio Albino Canelas Rubim, Maria Helena Weber e Mario Riorda, dentre outros, foram analisados todos os tweets[2] publicados entre 1º e 31 de janeiro de 2019 pelo usuário @planalto, cuja bio na rede social apresenta a seguinte descrição: “Perfil oficial. Acompanhe em tempo real notícias e bastidores do Palácio do Planalto e da Presidência da República”. Aliás, a finalidade institucional do perfil, conforme descrição feita pela própria equipe de comunicação do Poder Executivo no microblog, em 9 de janeiro de 2019, às 11h39, é de representar um espaço em que o público “pode acompanhar tudo sobre os bastidores do governo e as atividades do presidente”.

Análise do Twitter de Jair Bolsonaro

Foto: Marcos Corrêa/PR

Para catalogar qualitativamente os tweets foram estabelecidas, previamente, determinadas temáticas com a expectativa de que fossem encontradas, direta ou indiretamente, na fala institucional da Presidência da República. São elas: educação; saúde; segurança; infraestrutura; presidente; economia; Brasil; político-social; meio-ambiente; desqualificação e relações internacionais. Ademais, diante do contexto político-social do recorte temporal observado, acrescentaram-se as categorias posse(s); Brumadinho e respostas (replies).

Apesar de a amostragem ser restrita, ela serviu para mapear o estado da coisa e trazer alguns dados importantes. Ao todo, foram escritos 646 tweets, em uma média diária de 20,83 publicações, dos quais 15,48% corresponderam ao tema ‘Brumadinho’; 15,33%, à(s) ‘posse(s)’; 11,15%, às ‘relações internacionais’; 8,36% à ‘economia’; 6,97% às ‘respostas (replies)’; 6,5%, à ‘segurança’; 6,35%, a ‘Brasil’; 5,73% à ‘político-social’ e 5,11%, à ‘presidente’. Abaixo dos 5% do total de postagens realizadas ficaram os temas ‘infraestrutura’ com 4,18%; ‘desqualificação’ com 3,10%; ‘educação’ com 1,24%; ‘saúde’ com 0,93% e ‘meio-ambiente’ com 0,46%. Importante ressaltar, ainda, que no conjunto total das publicações analisadas, 254 faziam citações diretas ao perfil (@jairbolsonaro. Isso significa que em 40% das postagens há remissão direta ao perfil pessoal do presidente Jair Bolsonaro.

Antes de apresentar a análise, faz-se pertinente apontar que 59 tweets, ou 9,13% das publicações feitas, não possuíam relação com os temas prescritos e, que, o Fórum Econômico Mundial, realizado todo mês de janeiro em Davos, na Suíça, não foi elevado à condição de categoria devido à pluralidade do discurso realizado pelo presidente Jair Bolsonaro ao abrir a edição de 2019. Sendo assim, os 55 tweets atribuídos ao Fórum Econômico Mundial foram distribuídos entre os temas já existentes.

Nessa toada, a análise de conteúdo das postagens revelou considerações sobre o objeto de estudo, confrontadas, em parte, aqui. A primeira conclusão é de que a comunicação realizada pelo perfil da chefia do Poder Executivo, no Twitter, mostra-se alinhada não só com o discurso eleitoral do presidente, mas também com os temas de sua preferência pessoal[3]. Se excluirmos as temáticas temporais Brumadinho – que contemplou os tweets publicados a partir do dia 25 de janeiro, quando aconteceu o maior desastre mundial em barragens da década segundo a Organização Internacional do Trabalho (CHADE, 2019) – e posse(s) – que considerou os tweets publicados em 1º de janeiro devido a cerimônia de posse do presidente e do seu vice, Hamilton Mourão (PRTB), além dos publicados nos dias subsequentes para relatar a posse de ministros e generais em cargos do Executivo nacional –, percebemos que relações internacionais foi o tema com mais menções: 72 tweets. É importante ressaltar que, destas publicações, 29 aconteceram durante a visita do ex-presidente argentino, Mauricio Macri, ao Brasil em 16 de janeiro e a mesma quantidade (29) teve relação direta com a participação da comitiva brasileira em Davos.

Depois vieram dois dos, pelo menos três temas mais frequentes no discurso e na política bolsonarista: economia e segurança (SOARES; BARBOSA, 2019). O primeiro teve 54 menções, enquanto o segundo foi citado 42 vezes. Mais da metade desse número (22) refere-se à Medida Provisória assinada por Bolsonaro em 15 de janeiro para regularizar as armas de fogo no Brasil. Juntas, essas categorias responderam por quase 15% dos tweets de janeiro de 2019.

Na sequência, aparecem os temas Brasil com 41 tweets e político-social com 37 publicações. Nesta categoria, 14 postagens abordam a reforma da Previdência e 15 estão relacionadas à governabilidade ou relação entre os poderes.

Lado outro, as categorias educação com oito tweets publicados; saúde com seis postagens e meio-ambiente com três representam, juntas, menos de 3% do conteúdo do Palácio do Planalto, que dos seis tweets relacionados à categoria saúde, usou cinco para promover a Semana Nacional de Prevenção a Gravidez na Adolescência – criada pelo próprio presidente Jair Bolsonaro e realizada entre 1º e 8 de fevereiro de 2019. Importante ressaltar, aqui, que saúde e educação foram os temas mais procurados pelos eleitores brasileiros na plataforma de buscas online Google durante as eleições de 2018. (MARQUES, 2018).

Diante do cenário levantado, é potencialmente factível a hipótese de que o perfil institucional da Presidência da República no Twitter – em detrimento da comunicação pública e governamental que preza pelo interesse público, pela prestação de contas baseada em accountability [4] e por informar as principais ações e programas dos serviços essenciais – tem privilegiado a comunicação pautada por uma estratégia pessoal, visando manter e ampliar a opinião pública, além de reforçar uma agenda eleitoral.

* Mateus Leonardi Redivo é Graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Positivo (UP), membro do Grupo de Pesquisa em Comunicação Eleitoral da UFPR e aluno especial do PPGCOM da UFPR.

[1] O Twitter é uma rede social digital, também classificada como microblog, criada pela startup californiana Odeo em 2006.

[2] Termo em inglês que significa “gorjeio” ou “pio de passarinho”, tweet é a publicação feita na rede social Twitter.

[3] Economia, segurança pública e costumes. SOARES, Olavo, BARBOSA, Renan. Economia, segurança e corrupção, depois os costumes: como será a agenda de Bolsonaro no Congresso. In: Gazeta do Povo.

[4] Termo da língua inglesa que pode ser traduzido como “responsabilidade com ética”, accountability remete às obrigações de transparência que os membros de um órgão administrativo ou representativo devem prestar às instâncias controladoras e à sociedade.

Referências Bibliográficas

CHADE, Jamil, Brumadinho é o maior desastre da década em barragens no mundo, alerta OIT. Estadão. https://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,brumadinho-e-o-maior-desastre-da-decada-em-barragens-no-mundo-alerta-oit,70002698197 acessado em 14 de fevereiro de 2020.

JORGE, Mariliz Pereira, Fui bloqueada pelo Ministro da Educação e pelo juiz da Lava Jato. MyNews. https://www.youtube.com/watch?v=pHYH6kHgcE0 acessado em 4 de julho de 2019.

MARQUES, Pablo, Saúde e educação são os temas mais procurados sobre as eleições de 2018. R7. https://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/saude-e-educacao-sao-os-temas-mais-procurados-sobre-as-eleicoes-2018-17092018 acessado em 5 de abril de 2020.

PANKE, Luciana, CERVI, Emerson Urizzi, Análise da comunicação eleitoral: uma proposta metodológica para os estudos do HGPE. Contemporânea, setembro/dezembro de 2011.

RIORDA, Mario, La comunicación gubernamental como comunicación gubernamental. http://revistas.pucp.edu.pe/index.php/politai/article/view/13956 acessado em 4 de abril de 2020.

SOARES, Olavo, BARBOSA, Renan, Economia, segurança e corrupção, depois os costumes: como será a agenda de Bolsonaro no Congresso. Gazeta do Povo. https://www.gazetadopovo.com.br/politica/republica/economia-seguranca-e-corrupcao-depois-os-costumes-como-sera-a-agenda-bolsonaro-no-congresso-ccjvtpn244l16sh5ib34azvaa acessado em 15 de fevereiro de 2020.

WEBER, Maria Helena, Nas redes da Comunicação Pública, as disputas possíveis e visibilidade. Florianópolis, SC. Insular: 2017.