Grupo de pesquisa ligado à linha de Comunicação e Política do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Paraná.

Comunicação Governamental: não cura, mas ajuda

Por Sérgio Trein*

A pandemia expôs, além dos problemas relacionados à saúde, como a própria gravidade da doença e a precária infraestrutura nos hospitais, outro problema importante relacionado às administrações públicas: a falta de comunicação governamental. Comunicação não cura, mas ajuda. Para Izurieta (2003), se um governo não diz nada ou diz muito pouco, passa a impressão de que também não faz nada. Ainda mais considerando que os indivíduos têm um contato muito rápido com o mundo político, o que incide, consequentemente, na qualidade das mensagens a serem absorvidas pelas pessoas. Boa parte destes indivíduos está exposta às informações, acontecimentos e fatos sobre a política e os políticos, através de uma série de gêneros e formatos de comunicação que podem se transformar em canais de comunicação política, como afirma Ochoa (1999). É através destes canais que boa parcela da população vai formando as suas opiniões, sejam elas com alguma base concreta ou distorcidas. De acordo com o autor, estes gêneros e formatos podem ser boletins de imprensa; charges políticas; boatos e fake news; humor político; teatro político; editoriais; colunas diárias dos veículos sobre política; entrevistas; declarações e discursos; debates; materiais de publicidade eleitoral; materiais de comunicação pública; sites e páginas pessoais na internet; músicas; monumentos; relatórios estatísticos; entre outros.

Mas é das próprias administrações públicas e de seus governantes, que a população espera receber informações. Em especial, em situações de crise ou de grandes preocupações como agora em que vivemos, em função do Corona Vírus. Para Izurieta (2003), existem cinco tipos de comunicação política: a comunicação reativa, a comunicação proativa, a comunicação considerada contábil, a comunicação eleitoral permanente e a comunicação voltada a ouvir as pessoas. A comunicação reativa é aquela em que o governo reage aos fatos que se sucedem e, a partir daí, decide o que comunicar. A comunicação proativa presume uma postura diferente. Ou seja, procura estabelecer pautas e agendas como uma forma estratégica de mostrar suas ações. A comunicação considerada contábil é aquela que, através de métricas quantitativas e qualitativas procura formas de avaliar a gestão pública na ótica da população ou do eleitorado. A comunicação eleitoral permanente leva em consideração que um governo sempre deve trabalhar para reeleger o governante ou manter o partido no poder. Ou seja, uma gestão vai de uma eleição a outra, por isso deve estar em campanha permanente. Por fim, a comunicação para ouvir as pessoas  é, sem dúvida, a mais importante de todas e, geralmente, as administrações prestam menos a atenção, porque esquecem que a comunicação é um caminho de duas vias. Como afirma Wolton (1998), enquanto as instâncias políticas informam o seu trabalho, também a sociedade informa as suas opiniões e necessidades. Ou, como diz o ditado: “por isso é que temos dois ouvidos e apenas uma boca” (IZURIETA, 2003, p. 91). Contudo, o ideal, conforme o autor, não é privilegiar alguma estratégia destas em particular. E, sim, um plano integral que reúna todas elas.

O que vemos hoje no Brasil, nesta situação de pandemia, é algo totalmente diferente destes tipos de comunicação política e governamental. O Governo Federal minimiza a doença e até o momento não desenvolveu nenhuma campanha de comunicação orientando a população. De outra parte, nos municípios, assistimos prefeitos lutando para abrir os seus comércios. No entanto, a política, que vive momentos de desconfiança por parte da população, em função da incompetência de muitas administrações públicas e dos constantes casos e denúncias de corrupção, talvez nunca tenha tido, nos últimos tempos, um ambiente e um clima tão favorável por parte das pessoas para receber algum tipo de comunicação política.

* Sérgio Trein é publicitário, Pós-Doutor em Comunicação pela USP. Mestre e Doutor em Comunicação Sociopolítica.

Referências:

IZURIETA, Roberto et al. Estrategias de comunicación para gobiernos. Buenos Aires: La Crujia, 2003.

OCHOA, Oscar. Comunicación política y opinión pública. México: McGraw-Hill, 1999.

WOLTON, Dominique. Las contradiciones de la comunicación política. In: GAUTHIER, Gilles; GOSSELIN, André; MOUCHON, Jean (Orgs.). Comunicación y política. Barcelona: Gedisa, 1998.