Grupo de pesquisa ligado à linha de Comunicação e Política do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Paraná.

Debates eleitorais se adaptam ao contexto pandêmico

 

Por Silvia Cunha [1]

 

Os debates eleitorais são considerados acontecimentos centrais nas campanhas políticas. Meios tradicionais de exposição de atores políticos à opinião pública, esses eventos demandam diferentes esforços, tanto das equipes dos candidatos, que precisam prepará-los para o confronto, quanto dos veículos promotores dos embates, sejam eles na TV, no rádio ou na internet.

O formato, disseminado sobretudo nas democracias ocidentais, possibilita que os postulantes sejam avaliados e que os projetos políticos sejam publicizados e confrontados pelos adversários. Sujeitos a ataques e situações que exigem “jogo de cintura” e improviso, as candidaturas buscam demonstrar nessas ocasiões, seja pelo discurso verbal, corroborado pelo comportamento equilibrado, assertivo, ou provocativo, habilidade para o cargo. Para muitos eleitores, esses eventos são um   indicativo da capacidade de articulação e equilíbrio que os candidatos possuem.

A tradição da transmissão ao vivo pela televisão, inaugurada em meados dos anos 60 nos Estados Unidos na disputa entre Richard Nixon e John Kennedy, evidencia a importância desse veículo no jogo político.

Coleman (2000) associa o aumento da relevância do formato televisivo à adoção crescente do modelo de campanha focado no candidato – uma das características da personalização do processo político (COLEMAN, 2000 apud VASCONCELLOS, 2014, p. 5). Nunes (2004) endossa esta argumentação: “Na democracia do público, os representantes políticos são vistos como atores que, através do uso da televisão e do marketing político, tomam a iniciativa de propor um princípio que interesse ao eleitor, que tem o ‘poder de dar o veredicto final’” (NUNES, 2004, p. 355).

No Brasil, esta centralidade da tela também é percebida. Na última semana, a Band, uma das principais emissoras de televisão do país, realizou os primeiros debates municipais nas principais cidades brasileiras. Para além do discurso pouco propositivo dos postulantes, das técnicas de campanha negativa utilizadas pelos candidatos durante o confronto e da repercussão já esperada pela imprensa e aferida pelas pesquisas de opinião, destaco os pontos a seguir.

A dinâmica do embate, alterada pelas consequências da pandemia de coronavírus, trouxe novidades para o formato, realizado sob uma atmosfera ainda mais espetacularizada. Sem a presença da plateia, só puderam participar os candidatos e mais dois assessores. Além das candidaturas, toda a equipe técnica foi testada para a COVID – somente aqueles com resultado negativo foram autorizados a adentrar nos estúdios. Separados por púlpitos de acrílico e munidos de álcool gel, os postulantes foram obrigados a utilizarem máscaras, que só puderam ser retiradas durante as perguntas.

 

Postulantes ao cargo de prefeito(a) de São Paulo, em debate transmitido pela Band,  no dia 1º de outubro. Créditos da imagem: Band.

Postulantes ao cargo de prefeito(a) de São Paulo, em debate transmitido pela Band, no dia 1º de outubro. Créditos da imagem: Agência Lupa/Band.

Em duas capitais, Belo Horizonte e Curitiba, os candidatos que disputam a reeleição não participaram dos debates. Ambos lideram com folga as pesquisas de opinião em relação a preferência do eleitorado nas disputas. Como relembra Santos (2019), a participação nesta arena do espetáculo eleitoral é facultativa. A ausência das candidaturas pode se justificar na avaliação de ganhos e perdas realizadas pelas equipes de comunicação e marketing político.

Além deste ponto, chama atenção outro fato. Nos dias posteriores à realização da série de debates, agências especializadas em fact checking se dedicaram a aferir a veracidade dos conteúdos – uma possível consequência do novo ambiente político, onde a desinformação é uma preocupação real, considerada um perigo para a democracia.

 

 

[1] Silvia Cunha é jornalista e mestranda na linha de Comunicação e Política do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

 

Referências:

 

NUNES, Márcia Vidal. Mídia e Eleições. In: RUBIM, Antônio Albino Canelas (Org). Comunicação e Política: conceitos e abordagens. Salvador: Edufba, 2004. p. 347-378.

SANTOS, Christiane. Os desencontros entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) nos debates eleitorais. In PIMENTEL, Pedro Chapaval, TESSEROLI, Ricardo (Orgs.). O Brasil vai às urnas: as campanhas eleitorais para presidente na TV e internet. Londrina: Syntagma Editores, 2019. p. 176-204.

VASCONCELLOS, F. Debates presidenciais na TV como dispositivos complementares de informação política no Brasil: características e estratégias. Anais do IX Encontro da Associação Brasileira de Ciência Política. Brasília: ABCP, 2014.